segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Talita e seus cajus


Eu gosto de caju. Não. Na verdade eu não gosto de caju. Caju é uma fruta, correto?
Eu sou uma mulher correta. Pago minhas dívidas em dia. Porque de noite, eu preciso dormir. Durmo sempre sozinha. Não gosto de homem do meu lado. Eu gosto de caju. Que porra, que mania eu tenho de dizer que gosto de caju. Eu gosto de suco de caju, mas aquele de garrafa. Gosto de tudo que vem pronto. Ontem mesmo, fui num pronto-socorro. Foi minha vizinha Socorro quem me levou. Eu estava tentando abrir uma lata de atum. Foi um sacrifício. Definitivamente, abridor de lata não foi um instrumento preparado, adequado, para se abrir uma lata. Ou então eu sou canhota. Já reparou que nas escolas, não existem carteiras para canhotos? Isto é revoltante. Eu gosto de caju. Castanha! É isso, eu gosto da castanha do caju. Toda castanha vem do caju? Eu só sei que detesto caju. Eu gosto é da castanha. Nozes. Também gosto de torta de nozes. Nozes. Hum... Nozes é muito bom. Mas é muito, muito bom. Quem mexeu aqui? Tinham doze bombons, agora só vejo três. Aliás, eu não vejo mais nada. Há muito tempo, disse para mim mesma: Talita, você, a partir de hoje, não verá mais nada. Nem foi assim. Eu disse: “Talita, minha querida. A partir de hoje tu não verás mais nada.” E desde então não vejo mais nada. Sou uma pessoa voltada para dentro. Toda vez que minha mãe gritava “já pra dentro, Talita!”, eu ficava fora. Isso era o quê? Rebeldia! E o que a rebeldia me levou? A nada. E onde não há nada, nada há. É por isso que eu me agarro. Me agarro e não me solto. Porque se eu me soltar, meu filho... cai tudo. E aí... vai ser caju pra tudo que é lado.

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