domingo, 7 de março de 2010

FILOSOFIA DE VIDA ACME* (A que me tem direito)


“O que você viu naquele coelho?”

Pergunta o detetive Eddie Valiant à voluptuosa e siliconada Jessica Rabbit. Ao que ela responde:

“Ele me faz rir.”

Eu tinha uns oito anos quando “Uma cilada pra Roger Rabbit”, filme que mistura o mundo real com o desenho animado, me deixou fascinado.

Sonhava que a Desenholândia de fato existisse, pois os desenhos animados são mais divertidos, bonitos e fantásticos que o mundo real.

Lá, a bigorna cai na sua cabeça e você vê estrelas (ou passarinhos!) e logo em seguida continua intacto e serelepe.

Dar-me conta de que não, não, desenho animado é algo criado no papel (sou da era analógica, meu bem...) foi uma frustração para a criança que estava prestes a começar seu processo de descoberta de sua humanidade – e incontáveis limitações.

Cresci dizendo que possuía a síndrome de Roger Rabbit: “Gosto de fazer rir”. Era meu alívio, pois entre os garotos da minha idade eu me sentia mesmo um coelho...

Sempre teve um lado meu que insistiu em não “crescer”. Acreditar que posso desenhar a vida como a quero me tornou artista, me permitiu criança, me fez essência – de um frasco de perfume sem tampa, gosto de exalar-me para o mundo...

(Inventei de fazer poesia barata e depois de “exalar-me para o mundo...” estou sem saber para onde ir. Ainda bem que essa musiquinha do portal dá um embalo gostoooso... Dá vontade até de fazer uma yoga, beber leite Molico.)

Agora fui:

Dentre os milhões de aprendizados que tive na Biodança, destaco para o momento este: “Felicidade é uma opção.”

Costumo dizer que a tristeza entra na gente sem pedir licença, enquanto que a alegria é uma conquista. É esta conquista que realizo cada vez que faço o meu trabalho e este ajuda o outro a também ter seu momento de conquista – como é bom ver as pessoas saindo felizes da caixa mágica que é o teatro!

Superficial? Eu diria estratégico. Sabe aquela máxima de que com jeitinho se consegue tudo? (Pode não ser uma máxima, mas é o máximo, diga aí...)

Quando eu era bebê, minha mãe me fazia comer tudo que tinha no prato porque, a cada colherada, eu me divertia arremessando um objeto.

O que quero dizer com isso? É que através do humor, dá para fazer o outro comer chicória com gosto de chocolate, mesmo que meio amargo. Muitas piadas podem vir como lanças na nossa consciência...

E se rir é o melhor remédio, faço questão de receitá-lo a todos os meus pacientes amigos e espectadores, porque faço uso dele sempre e vos garanto: previne que eu chegue ao final do dia me sentindo apenas mais um na multidão.

Rir de mim mesmo permite minha criança descobrir que minha humanidade é capaz de incontáveis superações. Deixa meu mundo real mais bonito, divertido e fantástico. E, graças a Deus e a anos de terapia, não me sinto mais um coelho. Mas continuo fã do Roger.

“E por hoje é só, pessoal!”

*Pra quem não sabe, ACME é a marca de todos os produtos usados pelos personagens nos desenhos da Warner Bros. Bobinho!!!



Vinnicius Morais é roteirista de tv, autor de teatro, diretor teatral, ator, não é filósofo, não é médico, nem advogado, nem engenheiro, não adianta insistir. Tem vocação para go-go boy, mas isso só quem sabe são os amigos.

Quer conhecê-lo melhor? Nada de Orkut ou Msn, vá ver “Siricotico – Uma Comédia do Balacobaco”, escrita por ele em parceria com Lelo Filho, produzida pela Cia. Baiana de Patifaria, em cartaz no Teatro ISBA, Ondina, Salvador, de sexta a domingo às 20h.

E por favor, ria sem moderação.

04 de março de 2010.