Quantas vezes você já ouviu (ou você mesmo disse) as
seguintes frases: “Infelizmente o baiano não tem a cultura de ir ao teatro.” /
“Adoro teatro, mas nunca vou.” / “Gosto muito de teatro, sempre que vou a São
Paulo não perco um musical.”
Quando ouço essas frases, me dá uma vontade de... Mas
continuo com cara de paisagem para não pesar o ambiente.
Em primeiro lugar, falta de cultura não é privilégio do
baiano, mas um problema que viaja do Oiapoque ao Chuí e tem como base a falta
de educação. Independente de classe social, somos um povo mal-educado. Se as pessoas
são mal educadas desde a infância a consumirem bens culturais que não sejam
produtos midiáticos, se não saem de casa para ir ao teatro porque tem muitas
outras coisas que julgam mais interessantes fazer, estou fazendo teatro para
quem e por quê?
Qualquer resposta que eu dê me parece que vai soar muito
poética, e como ando numa fase pouco poética e muito objetiva, prefiro não
responder e continuar trabalhando.
Acho que fazemos parte, em geral, de um gado que se move ao
som do berrante. O berrante é a mídia. Para onde ela toca, o gado vai. Mas
somos um gado metido, queremos que o berrante nos conduza para lugares que nos
proporcionem sensação de status e poder.
Nesses lugares, não importa se o ingresso é caro – aliás, importa sim;
se é caro, é bom, é para os privilegiados, tem que ser caro mesmo, divido no
cartão – o que importa é poder estar lá e dizer que fui (não deixando de fazer
o check in no Facebook, claro.)
Outra frase ótima de ouvir: “Quando estiver rolando uma peça
boa, me avise, adoro teatro!”
Toda vez que ouço isso, sinto-me morador de uma cidade
abandonada que espera o circo chegar. Vem cá, flor de mãe, já ouviu falar em
caderno cultural? Guia cultural? Google??? Eu preciso me dar ao trabalho de
lembrar de te ligar para recomendar uma peça – e sabe Deus se você irá?
Quanto você gasta em uma saída ao bar? À boate? Ao shopping?
Pegue a calculadora. O ingresso do cinema já está 26 reais em 3D com 4 a 5
sessões por dia, todos os dias em salas que cabem mais de 300 pessoas. Se encher a sala só com meia entrada, a renda
semanal do filme será de mais de 130 mil reais (Uau!).
Vamos pensar num espetáculo teatral, que tem uma enorme
equipe por trás trabalhando e precisando da bilheteria para receber seus
cachês, a um ingresso de 50 reais de sexta a domingo com as mesmas 300 pessoas.
Se encher de meia entrada, a renda semanal será de 22.500 reais. Quem faz
teatro e consegue pelo menos um terço disto, levanta a mão!
Mas e daí, já tenho meus problemas, meu salário não é lá
essas maravilhas, então vou chiar sim que o ingresso do teatro está caro, e vou
ter que usar minha carteira falsa de meia para pagar 20 reais, então não sei se
vale a pena, mas vou dividir em 6 vezes de 100 para pagar pelo abadá do próximo
carnaval, chiando ou não. Ou farei questão de ir ver a peça dos globais
montando um tal de Ibsen num TCA lotado e sairei com a certeza de que teatro é
uma coisa meio chata mesmo.
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